segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sensibilidade e intuição fazem com que idéias e conceitos se transformem em peças concretas. A arte de moldar o tecido em roupas vem ganhando destaque entre jovens talentos da terra

Eles são jovens, não têm formação na área, mas sabem como poucos alinhavar desejos. Usam mais que lápis, papel, linha e agulha. Se utilizam principalmente da intuição e da sensibilidade para criar peças exclusivas que estão desfilando pela maior passarela: as ruas.

O Zoeira visitou três ateliês de novos talentos cearenses e mostra como eles enxergam a moda feita pelas próprias mãos. Uma moda que deixa de ser apenas mais um conceito e se transforma em atitude.

Para o estudante do Ensino Médio David Moraes, 17 anos, assistir aos programas especializados no mundo fashion sempre foi um divertimento. Moda só virou trabalho no começo de janeiro, quando resolveu montar, junto com a mãe, uma marca de roupas femininas, a ´NAF´ (iniciais do nome de sua mãe, Nancy Fernandes).

´Minha mãe sempre gostou de fazer suas roupas nas costureiras. E as pessoas elogiavam. Aí veio a idéia de criar a marca. No primeiro mês vendeu para a família e amigos e depois os amigos dos amigos...´, conta.

O estudante hoje se divide entre a escola e o ateliê/loja, que funciona na sala de casa. É ele quem pesquisa tendências, pensa em novas peças, vai com a mãe comprar tecidos, divulga as roupas na Internet e recebe as clientes. A ligação com esse mundo foi se estreitando de tal forma que o rapaz não vê a hora de entrar para a faculdade de estilismo e moda.

Rapidinho o volume de peças cresceu, assim como o de pessoas envolvidas no processo. Hoje além dele e da mãe, trabalham seis costureiras e a cunhada, que vende, divulga e ainda faz às vezes de modelo.

Para conseguir dar conta da demanda, a família vai se mudar para uma casa maior, onde a loja terá mais espaço e o atendimento acontecerá também pela manhã.

No momento, David só recebe as clientes à tarde e à noite. ´A rotina daqui de casa mudou. É tecido em cima da mesa de jantar, revistas espalhadas. Minha vida social é só de noite e nos fins de semana. Mas não reclamo. Fiz muitas amigas que são minhas clientes´, diz.

Internet

Uma grande tendência para quem está começando a produzir e vender coisas novas é escolher a Internet como uma força a mais na divulgação. ´Sempre que a gente lança uma nova coleção, eu faço um ensaio para colocar no site e no perfil da loja no Orkut. Monto os looks, escolho acessórios e faço eu mesmo as fotos de divulgação´, relata.

A grande maioria das clientes da NAF conheceu a loja através do site de relacionamentos Orkut. ´É uma forma de publicidade barata e rápida. Mal eu coloco as fotos e as meninas já vêm aqui em casa para comprar as novas peças´, diz, animado.

É assim também que as estudantes de jornalismo, Gabriela Dourado e Juliana Lousada, ambas de 25 anos, vendem sua produção. Desde que montaram a ´Paranormal´, perceberam que a internet era uma boa aliada. Principalmente elas que têm o foco no público voltado mais para os chamados ´alternativos´ e ´descolados´.

´Nosso público é de pessoas que gostam de coisas diferentes, exclusivas. Não estão interessados em marcas e tendências. E nossas coisas são bem artesanais. Nunca faço uma peça igual à outra´, explica Juliana, responsável pela criação e execução das camisetas, broches, colares e faixas de cabelos.

Combinação de talentos

Para a ´Paranormal´ chegar ao que é hoje foi necessário combinar o tino para vendas e marketing de Gabriela e o talento voltado para criação e costura de Juliana. ´A Juliana já customizava as roupas dela e ela sempre chamava atenção. Fazia colares e vendia, mas deixou de fazer porque não gostava de vender. Foi aí que ela me chamou porque sabe que gosto dessa parte´, conta Gabriela.

Juliana explica que raramente entra em sites que trabalham com a mesma proposta que a ´Paranormal´ para não se influenciar e acabar copiando estamparias. ´A idéia vem de coisas que eu gosto. Vou fazendo os desenhos e as customizações nas camisetas e observamos o que os clientes gostam mais´.

Elas também não criam temas para trabalhar as coleções. Contudo, admitem, depois de feitas, o conjunto tem uma unidade. Na coleção passada, caveiras e elementos nos anos 80 eram recorrentes.

As duas estão passando por um momento decisivo: terminando a faculdade. E quando falam na perspectiva de futuro ainda são reticentes. Desejam realmente se dedicar exclusivamente à marca que criaram com carinho. Mas ainda temem a instabilidade do ramo e acreditam que, pelo menos no início, o melhor caminho é conciliar jornalismo e moda.

Pro futuro mais próximo Gabriela e Juliana querem abrir um ateliê maior, onde os clientes possam ir e comprar. Planejam também expandir o tipo de peças com as quais trabalham. Além das camisetas e das blusas tomara-que-caia, colares e broches de feltro costurados à mão, logo, logo, os clientes vão poder conferir também lenços, carteiras, shorts, saias e vestidos.

Por enquanto, elas continuam vendendo pela internet, no site e no Orkut. Depois de feito o contato, Juliana marca data, hora e local para a venda. ´São coisas pequenas e a gente acaba levando até para as baladas´, conta.

Arte em tecido

Amiga das sócias ´paranormais´ e dona de sua própria grife, Mariana Kuroyama, 26 anos, também começou fazendo roupas pra si própria. Até que percebeu que podia vestir outras pessoas com sua arte.

Apaixonada por desenho, Mariana sempre gostou de fazer intervenções (algumas até profundas, como as tatuagens, com as quais trabalha). Irmã de artista plástica, ela parece ter herdado o mesmo dom.

E quando, há três anos, viu os desfiles da 1ª edição do Projeto Palco - concurso de moda que acontece no Mercado dos Pinhões - foi incentivada por amigas a participar. No ano seguinte, fez uma mini-coleção intitulada ´Jardins Suspensos´, de apenas duas peças (vestidos em preto e branco), e acabou vencendo o concurso de novos talentos.

Em 2007 ela retorna, mas agora com 10 peças. Assim que o desfile terminou, só restava um único vestido que não fora vendido. Então Mariana viu seu potencial e não parou mais. Este ano, em setembro, a coleção ´Kuroyana Sun´ aconteceu na casa de Mariana, em um clima bem festivo.

Suas peças são bem femininas e têm um charme bem retrô. ´Minhas roupas são bem artesanais. Desenho o modelo e entrego para a costureira. Quando ela me devolve eu faço a arte em cima. Pinto o tecido, bordo... E não faço nenhuma peça repetida´, explica.

Sem curso nenhum na área, ela reconhece que às vezes sente necessidade de conhecer mais sobre tecidos, por exemplo. Mas não pretende entrar em faculdade de moda ou algo do gênero. ´Faço tudo muito intuitivamente. Acho que vestir é uma arte e quero colocar meus desenhos onde puder. Para mim, moda é uma tela e as pessoas são instalações´, conceitua Kuroyama.

Além dos vestidos e saias, outro charme retrô que Mariana proporciona para os clientes é a de receber encomenda de roupas. Bem ao estilo dos anos 60. ´No momento não estou recebendo porque estou finalizando minha monografia, mas faço sim roupas por encomenda´. Ela ainda não fez seu site e conta com amigos para vender sua moda. Mas a moça recebe também e-mails. Afinal, a Internet está mais na moda do que nunca!

Mais informações:
NAF- www.sejanaf.blogspot.com e 3262.7321
Paranormal - pparanormal.multiply.com e paranormal.in@gmail.com
Kuroyama Sun: kuroyamart@gmail.com

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