segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A VAIDADE
Por Mário Ypiranga Monteiro Neto* em 13/04/2004


Vaidade, na definição de Aurélio, é a qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória. A vaidade, sentimento que esvazia e dispersa. Interessante é o modo como procede, criadora do absurdo e do irreal aos olhos alheios.

A vaidade é a irmã da mentira. É, sobretudo, o desprezo da verdade, pois seu portador traz idéias e conceitos equivocados, desagradáveis. O sentimento conduz-nos ao labirinto tétrico da superioridade que o coração traiçoeiramente nos oferece, mas a alma não aceita.

A mais desprezível das vaidades decorre da sabedoria, a vaidade intelectual que faz os homens superiores aos demais, e superiores no saber, que os “eleva” bem ao alto de suas (in)capacidades e, quando tombam ao som ensurdecedor, pousam no espurco chique de onde se originaram.

Há a vaidade que surge da beleza, do dinheiro, da classe social; há, também, a vaidade que surge da idade, a sensação ignóbil de algum empantufado, que, por ter passado uns vinte ou trinta anos na repartição, se crê dotado de amplo poder de correção e conhecedor de todos os segredos da história da sociedade e do poder e faz de seu gabinete casamata de sua incompetência.

Na verdade, ocorre que, quem não obteve o sucesso e se encontra encardido pelo tempo, sente repulsa do brilhantismo jovem, que flui naturalmente.

A vaidade que deriva do poder é risível. Certas pessoas não conseguem largar o poder e a arte da falsidade, da dissimulação e da mentira e entrelaçam-se com êxito na ambiência política, e a falta de escrúpulos tem satisfatório desempenho na política de quem emprega tais meios. Como diria Francis Bacon, os vaidosos são os joguetes desprezados dos homens sábios e discretos, o objeto de admiração dos tolos, os ídolos dos parasitas e os escravos de sua própria vaidade.

A vaidade nada cria e, quanto mais se tem, tem-se a menos. Com a exposição indevida, comunicam-se os defeitos que o recato encobria e, se não há talento, o sentimento enfraquece a original essência. A literatura diz-nos que existiam tipos de mármores perfeitos, que não precisavam de uma camada de cera, aplicada aos defeituosos. Aqueles eram o que eram. Estes, ao contrário, eram eles e mais uma substância que os fazia parecer o que não eram. Falaz polimento, superficial sentimento!

Deixo ao leitor a reflexão. O mundo anda mesmo pouco atraente. A pungente e cruel realidade da vaidade e da mediocridade... Tudo parece muito igual, com exceção dos que se põem a salvo pela poesia diária...

Peço licença, então, para dizer-lhes: a moda, agora, é dos sem-vaidade.


Mário Ypiranga Monteiro Neto é Promotor de Justiça e Membro da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas

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